sábado, 22 de junho de 2019

A verdade, o tempo e o ventilador

É interessante a ideia de manter este blog mesmo após achar que a sacada de criar um blog em que eu pudesse jogar toda a merda no ventilador contando não só a minha história, mas um pouco da realidade de quem também viveu o combo capão redondo/Jardim Ângela nos anos 90, fosse uma novidade. Confesso que me surpreendeu o fato de, acidentalmente revisitar sentimentos adormecidos em uma página em que despejei tanta coisa que queira e que acreditava. Apesar de hoje eu ter a convicção de que tudo foi feito, de certa forma, para agradar alguém ou para um grupo de pessoas específico, mesmo que de que coração aberto à época, hoje entendo que nunca foi um ponto de vista realmente pessoal.
O mais engraçado e trágico é perceber que, para poder jogar a merda no ventilador, tenho de estar cheio de merda nas mãos. E, de fato é o que acontece, mesmo que seja difícil aceitar, nossa geração acabou entrando, acredito eu, numa estatística. Fomos e somos arrogantes, omissos submissos e, consequentemente, hipócritas. Todos somos parte de uma geração condicionada a desviar a responsabilidade de nossos atos por mera conveniência, e eu fico fascinado(depois do longo período em que me senti surpreso/contrariado/revoltado/desesperançado com essa ideia) com a capacidade de ter tantos conhecidos que foram contemporâneos à mim, que acabam se encaixando no contexto da armadilha em que nossa geração caiu e, consequentemente, na realidade em que chegamos como sociedade, como cidadãos. Foi assim que acabei horrorizado por entender no que eu mesmo me tornei.
.. O jeitinho brasileiro, que sempre foi traduzido em habilidades futebolísticas, receptividade, alegria e tranquilidade, tem se mostrado cada vez mais um pano de fundo para um povo cruel, sádico e hipocrita, uma incoerência moral que hoje envolveu nosso dia a dia, principalmente das populações periféricas, nossa forma de pensar, nosso senso de justiça e nossos pontos de vista. Somos, como um povo passivo/agressivo, possivelmente a nação mais contraditória do mundo.
Posso sugerir que somos uma geração de "paus nos cus por natureza". Ou, de hipócritas por criação.
A ideia de que nossa sociedade é capaz de agir de forma tão medieval não deveria ser uma surpresa, já que somos um povo historicamente marcado com a extrema necessidade de(parecer)ser agradável quando se precisa soar agradável, não importa o preço dessa cordialidade.
Retornei a este blog para descrever a tragédia que todo o romantismo e esperanças da época em que ele foi criado, foram transformados em cinzas de incredulidade e de frustrações.
Hoje entendo que estamos todos num looping em que as castas estão cada vez mais bem definidas, um periodo em que os próprios oprimidos se fiscalizam, se denunciam e, como uma nova espécie guarda de capitães do mato, se oprimem. Tudo muito sincronizado, espontâneo, legítimo. Agindo automaticamente, como numa bela máquina cheia de sincronismo.
De agora em diante, buscarei ser o mais fiel possível a toda a realidade que vivi / vivemos, e tentarei fazer um relato mais real possível, de meu ponto de vista de ontem, para poder eu mesmo ter um paralelo real do que sou hoje.
Sem devaneios, sem romantismo barato e carente por atenção, sem a necessidade de agradar ninguém.
Sejam bem vindos e, aos que se incomodarem com as referências, nada pessoal... 😊

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